sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Registros da temporada em Julho no Teatro Sesc Emiliano Queiroz e no Theatro José de Alencar


Das ruas para o palco


O espetáculo "Heróis do Papelão", inspirado na exposição do artista plástico cearense Descartes Gadelha, de mesmo nome, foi contemplado com o prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz de 2009

Mais de 10 mil catadores trabalham nas ruas de Fortaleza. Sobre esse universo, o grupo Formosura de Teatro apresenta hoje, no Sesc Emiliano Queiroz, o espetáculo "Heróis do Papelão"
o esforço de homens e mulheres de Fortaleza que trabalham nas ruas carregando lixo, levando-o aos "deposeiros", até chegar às usinas, onde é vendido, é o tema do espetáculo .

Peças-chave para o reaproveitamento de tudo o que iria se acumular por muitos anos até se decompor, os catadores de lixo, no entanto, costumam ser observados de cima, pelo olhar de quem os vê muitos degraus abaixo. Esforço diário entre ruas e avenidas, carregando consigo o risco pesado de um carrinho de ferro, repleto de materiais. Rotina de comer uma vez por dia, andar cerca de 10 km e carregar quase uma tonelada pelas ruas.

A partir da observação, o grupo Formosura de Teatro começou, há cerca de dois anos, uma pesquisa a distância desse universo tão corriqueiramente próximo da vida das grandes cidades. Depois, os atores passaram a abordar os próprios catadores, nas ruas e associações.

Com os depoimentos, surgiu o "Heróis do Papelão", espetáculo de nome inspirado na exposição do artista Descartes Gadelha. "Ele foi a grande referência, porque tinha ido morar no Jangurussu, tinha se envolvido afetivamente com aquele universo. Falava do catador sem se aproveitar dele, sem fazer uma espetacularização da miséria", explica Maria Vitória, responsável pelo texto da peça, ao lado de Ângela Linhares. Além de ter escrito a letra das músicas e confeccionado os bonecos que surgem em cena, ela ainda atua.

A apresentação, que dura cerca de uma hora, descreve todo o percurso dos catadores, desde o momento em que recolhem os materiais, passando pelos "deposeiros" , como são chamados os atravessadores desse comércio, até chegar à usina onde o lixo é vendido. "Apesar de termos ouvido depoimentos, não é um documentário.É uma ficção inspirada nessas histórias de vida", ressalta Graça Freitas, diretora da peça.

Entre os personagens, as figuras representadas ganham correspondência na vida real. O caso do pai, obrigado a levar a filha para as ruas, por não ter com quem deixá-la; ou o da velha que, apesar da idade, tem de se submeter a esse tipo de trabalho que lhe exige tanto esforço. Entra em cena ainda a hierarquia por trás da profissão, com os catadores de saco, que almejam conseguir um carrinho.

Junto aos atores humanos, também aparecem os bonecos, peças importantes da trajetória do Formosura. Durante a encenação, um mesmo personagem pode ser representado em determinado momento pelo boneco e, em outro, pelo ator. "É a questão do duplo. Além disso, o corpo dos bonecos tem extensão de carrinho ou de saco", explica Maria Vitória.

Compuseram as músicas Caio Dias e Roni Santos, que também executam as canções ao vivo, ao lado de Rami Freitas. Atuam Diego Landin, Ronaldo Queiroz, Leonardo Costa, Maria Vitória e Maria Marina. Na confecção de bonecos, Graça Freitas, Maria Vitória e Ronaldo Queiroz. Nos cenários e adereços, Graça Freitas, Kazane e Stênio Freitas. A criação gráfica é de Diego Landin, a preparação vocal é de Clara Luz e a produção é de Elisa Alencar.


SÍRIA MAPURUNGA - REPÓRTER

Caderno 3 – Diário do Nordeste










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